Este blog é um espaço para os estudantes, da turma de Arquivologia 2007.1 e demais colaboradores socializarem suas atividades e conhecimentos com a sociedade.
Leia a resenha feita pelo estudante Jardel Gonzaga Veloso.
Boa leitura.
RESENHA DO 1º CAPÍTULO DO LIVRO CASA-GRANDE E SENZALA
Gilberto Freyre nasceu no Recife em 15 de março de 1900, e vindo falecer no dia 18 de julho de 1987 na mesma cidade. Foi um sociólogo, antropólogo e escritor brasileiro, considerado um dos grandes nomes da história do Brasil. Viajou para vários países em que proferiu inúmeras conferências nas mais renomadas universidades do mundo, durante a sua vida recebeu importantes títulos como o se Sir – ‘‘Cavaleiro Comandante do Império Britânico’’, distinção conferida pela Rainha da Inglaterra em 1971 e prêmios como o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (conjunto de obras) em 1962, o prêmio Internacional La Madonnina, Itália em 1969, entre outros. Também foi membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Portuguesa de História, ensinou em várias instituições de ensino superior, tanto no Brasil como no exterior. Fora da área acadêmica exerceu o cargo de Deputado Federal e o de Oficial de gabinete do governador do Estado de Pernambuco. Além da sua obra mestre Casa-Grande e Senzala, Freyre publicou diversos artigos e livros os quais podemos citar Sobrados e Mucambos, 1936; Nordeste, (livro) 1937; Assucar, 1939; Brasis, Brasil e Brasília, 1968; O brasileiro entre outros hispanos, 1975, entre outros.
No primeiro capítulo do livro Casa-Grande e Senzala, denominado de Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida, Gilberto Freyre procura fazer uma análise dos fatores que possibilitaram a fixação e colonização portuguesa no Brasil, para tanto ele utilizou aparentemente dois métodos científicos: o método histórico, que para compreender a sociedade brasileira na sua atualidade ele recria todo o período colonial com suas características e singularidades, bem como o período anterior que equivale a toda experiência cultural vivida por Portugal no século XV e nas três primeiras décadas do século XVI. E o método comparativo, pois em todo o capítulo ele o utiliza, seja para comparar a colonização portuguesa com a inglesa ou a espanhola; entre Portugal e outros países europeus; entre as capitanias hereditárias do nordeste com as do sudeste e outras várias comparações feitas. Enquanto a um modelo teórico Freyre ‘‘não segue de forma sistemática a nenhum e isso ocorre devido à influência de Franz Boas’’[1].
As principais idéias contidas neste capítulo são:
As características do português que possibilitaram a colonização do Brasil: Foi a partir deste ponto que Gilberto Freyre começa a desenvolver o capítulo expondo que os contatos (tanto: culturais e até mesmo sexuais), entre os portugueses com os mouros durante a Idade Média, foram fundamentais para que o português pudesse realizar bem a empreitada da colonização. Pois através de vários séculos de lutas contra os mouros, os portugueses assimilaram algumas de suas características culturais, como se observa nas palavras de Freyre (2006, p. 66) ‘‘A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. ’’
O Clima, a Terra e a Gente que o Português encontrou: O português diferentemente de outros povos europeus, especialmente os de origem nórdica, teve uma grande facilidade em se adaptar em terras de clima tropical, isso se deve segundo Strüssmann (2006) ‘‘pois o clima de Portugal era equivalente ao clima africano, que por sua vez tinha suas semelhanças com o Brasil colônia. ’’ Em compensação, os portugueses teriam dificuldades em relação à terra devido a irregularidade dos rios, as pragas que atingiam as plantações, etc. Como nos mostra Freyre (2006, p. 77), ‘‘Tudo era desequilíbrio. Grandes excessos e grandes deficiências, as da nova terra (...). Enchentes mortíferas e secas esterilizantes – tal o regime das águas. E pelas terras e matagais de tão difícil cultura como pelos rios quase impossíveis de ser aproveitados economicamente na lavoura, na indústria ou no transporte regular de produtos agrícolas – viveiros de larvas, multidões de insetos e de vermes nocivos ao homem. ’’ Já em relação aos índios, os portugueses formaram um forte hibridismo. Logo ao chegarem ao Brasil os portugueses se surpreenderam com o que viram inúmeras mulheres e todas elas nuas alisando seus negros cabelos. Aquela cena remetia ao português a uma grande excitação sexual, isso ocorre pelo fato de que as índias eram muito parecidas com a ‘‘moura encantada’’ que como Freyre (2006, p.71) expõe, era um ‘‘ tipo de mulher morena e de olhos pretos, envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos rios. ’’ Tal idealização se dá pela influência moura o que favoreceu para nascer uma nova geração, agora formada por mestiços, ajudando assim a ocupação do Brasil, tendo em vista que Portugal não possuía um grande contingente populacional para ocupar o Brasil de forma rápida e, além disso, havia outras colônias na África e na Ásia que também necessitavam serem ocupadas.
A constituição da Família Patriarcal: A família no Brasil colônia foi a instituição que mais ajudou na colonização, assumindo uma posição tal que chega até entrar em choque com a igreja católica sobre a forma da Companhia de Jesus, como também aponta Basile (2006), mostrando que Freyre ‘‘fala da família como uma instituição tão forte que chega a criar um antagonismo com a Cia de Jesus’’ mesmo sendo necessário para poder vim ao Brasil ser de religião católica. Tudo gira em torno da família de característica patriarcal, escravista e aristocrática ‘‘a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compram escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política’’. Em fim é ela quem dita às regras no Brasil colonial.
O plantio da cana-de-açúcar, a falta de alimento e o problema da nutrição: Este ponto foi muito trabalhado por Freyre, pois o problema da nutrição que afligia a sociedade colonial produzia uma população fraca e deficiente em termos nutricionais, tal problema se dava pela falta de alimentos decorrente da extensa plantação da cana-de-açúcar. Freyre criticava dizendo que ‘‘a nutrição da família colonial brasileira, a dos engenhos e notadamente a das cidades, surpreende-nos pela má qualidade: pela pobreza evidente de proteínas de origem animal (...), pela falta de vitaminas; pela de cálcio e de outros sais minerais; e, por outro lado, pela riqueza certa de toxinas. ’’ A ganância da monocultura da cana-de-açúcar, impedia o desenvolvimento de outras plantações, como o da mandioca para a produção de farinha e de legumes, além de impedir a criação de gados e outros animais no litoral, obrigando a se dirigirem ao sertão onde não se tinha pastagem tornando assim magros os animais. Mesmo quem tinha condição econômica sofria, pois mandavam trazer alguns alimentos de Portugal, mais estes mal acondicionados devido à longa viajem chegavam em péssimo estado de conservação. A exceção neste cenário alimentício no período colonial era o planalto paulista, que não se prendendo apenas ao cultivo da cana-de-açúcar possuíam ‘‘em abundância a proteína da carne de seus rebanhos de bovinos como também lhes sobrava a carne de porco (...), além de copiosa variedade na alimentação cerealífera, como o trigo, a mandioca, o milho, o feijão etc.’’ (Ellis apud Freyre, 2006, p. 106).
A Sífilis: O fato da grande miscigenação que ocorreu no Brasil desde o início da sua colonização, acabou por favorecer a proliferação da sífilis, tendo em vista que essa doença foi trazida pelos primeiros europeus que atracando no Brasil logo se misturaram com a população indígena, e junto a eles, a sífilis. Ela esteve tão presente na vida cotidiana colonial que era aceita normalmente pela sociedade, chegando ao ponto de que ‘‘o brasileiro a ostentava como quem ostentasse uma ferida de guerra’’ (Martius apud Freyre, 2006, p. 109).
Neste capítulo Freyre quis concluir que através do levantamento histórico, cultural, entre outros do período colonial, foi possível ter um entendimento da construção do Brasil como nação, e que este se deu por bases de antagonismos, como bem expressa Basile (2006), ‘‘que a formação brasileira tem sido um processo de equilíbrio de antagonismos. Para compreendermos o hoje é necessário entendermos o ontem’’.
Embora esta resenha esteja destinada apenas ao primeiro capítulo de Casa-Grande e Senzala, fica impossível não perceber a importância desta obra, pois ela nos dá uma grande contribuição para o entendimento de como ocorreu à formação da sociedade brasileira, mostrando o modo de vida da sociedade colonial, descrevendo os seus hábitos e costumes, expondo partes da nossa história que não eram privilegiados por outros autores até então.
Escrita de uma forma que nos lembra a leitura de um romance, fato este que ajuda na própria leitura do capítulo e com certeza do livro como todo. Apenas encontro duas ressalvas na leitura do capítulo: a primeira é a necessidade de sempre recorrer ao dicionário durante a leitura do capítulo, pois devido o livro ter sido escrito na década de 30 do século passado há um grande número de palavras pouco utilizadas atualmente o que acaba atrasando a leitura e o segundo é o fato de que Gilberto Freyre ao querer recriar a vida colonial de forma tão detalhada, o mesmo acaba por repetir algumas afirmações já expostas. Más tais observações em nada diminui a importância e o grande valor desta obra, que foi um marco para várias áreas como a história, sociologia, antropologia entre outras. E que é de fundamental importância a sua leitura, tanto por leigos quanto por intelectuais, principalmente em todas as instituições de ensino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASILE, Thiago. Gilberto Freyre, ‘‘Casa-Grande e Senzala’’. In: Novo Horizonte: um olhar que navega pelos vastos caminhos da literatura. Campinas, ago. 2006. Acessado em: 19 abr. 2008. Disponível em: <thiagobasile.blogspot.com/2006/08/gilberto-freyre-casa-grande-e-senzala.html>.
CASA-GRANDE E SENZALA – parte II. Acessado em: 19 abr. 2008. Disponível em: <educaterra.terra.com.br/literatura/livrodomes/2003/01/20/000.htm>.
NOGUEIRA, Arnaldo Júnior. Gilberto Freyre. In: Releituras – resumo biográfico e bibliográfico. Acessado em: 19 abr. 2008. Disponível em:
STRÜSSMANN, Daniela Jardim. Capítulo um do livro – Casa Grande e Senzala. In: Projeto Interdisciplinar – Sociologia da Educação e História da Educação. abr. 2006. Acesso em 19 abr. 2008. Disponível em
[1] Não foi encontrado o nome do autor nem o ano do texto da idéia presente na citação.
Entre em contato com autor.
e-mail: jardel.veloso@gmail.com
Muito bom...parabéns!!!!
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